5 de ago. de 2013

Moro em uma obra de arte

Conheça paulistanos que vivem em apartamentos projetados por mestres da arquitetura como Abelardo de Souza, João Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer e João Artacho Jurado. Dos anos 1950, estes imóveis são objetos de adoração

O morador Luiz Alberto, na cobertura do Residencial Nações Unidas (Foto: Felipe Morozini )

 Avenida cobiçada

A mãe do publicitário aposentado Luiz Alberto, 62 anos, sonhava em morar no Residencial Nações Unidas, na esquina das avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio. O desejo foi realizado em 1962, quando a família se mudou para o prédio. Na época, a fachada tinha ripas de madeira e o jardim alcançava o meio-fio. Para irem à escola, Luiz e o irmão tomavam o bonde, que passava ali na frente. “Com o tempo, o visual do entorno mudou muito”, conta o morador, que nunca mais saiu do edifício. Atualmente, vive em uma unidade maior, com varanda. Segundo ele, os apartamentos são espaçosos e têm planta bem distribuída. Sua ligação com o prédio vai além: desde 1985, Luiz exerce a função de síndico. Sair dali? Nem pensar. “Moro muito bem, a região da Paulista é ótima e faço tudo sem carro”, diz.
RESIDENCIAL NAÇÕES UNIDAS

AUTOR: Abelardo de Souza
INAUGURAÇÃO: 1956
ENDEREÇO: Av. Paulista, 648, Bela Vista.
SOBRE O PRÉDIO: São 432 apartamentos em 22 andares, 121 vagas de garagem e 36 lojas no térreo. Na fachada, há um mural do artista Clóvis Graciano, datado de 1959.
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O morador Albino Lupianhez na janela de seu apartamento no Edifício Eiffel, projetado por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos (Foto: Felipe Morozini)

Parece casa
No apartamento dúplex invertido, com quartos embaixo, sala e cozinha em cima, o bancário aposentado Albino Lupianhez, morador há 16 anos do Edifício Eiffel, se sente em um sobrado. “Só falta o quintal”, brinca. O pé-direito de 3,15 metros e as paredes de 30 cm de espessura isolam o som e não propagam barulho de vizinhos. Com 23 andares, 26 lojas no térreo e um grande restaurante no primeiro andar, o prédio está localizado em uma região que dispensa o uso de carro. “É preciso comprar vagas na garagem à parte, pois não há uma para cada apartamento”, diz. Para Albino, o bom do projeto é que, por ter dois andares, o morador não fica entediado de estar sempre no mesmo ambiente. Ele lembra que pagou um bom preço na unidade, mas teve de gastar com reforma e troca de fiação elétrica. Questionado sobre a sensação de viver em um Niemeyer, Albino não hesita: “É muito confortável morar aqui. O arquiteto tem a fama e a gente é quem desfruta disso”, diz.
EDIFÍCIO EIFFEL

AUTORES: Oscar Niemeyer e Carlos Lemos
INAUGURAÇÃO: 1956
ENDEREÇO: Praça da República, 177, República.
SOBRE O PRÉDIO: Três blocos com 54 apartamentos dúplex de dois, três ou quatro dormitórios. Os quartos ficam na parte de baixo e a área social, em cima.
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O morador João Bosco, que se sente em casa mesmo morando no apartamento do Edifício Louvre (Foto: Felipe Morozini)

Terraço no centro
O professor universitário João Bosco, 68 anos, vive há 32 no apartamento da Avenida São Luís e escolheu o prédio pela localização, próxima ao local onde trabalhava. A princípio, não sabia que o projeto era do empresário João Artacho Jurado, mas sempre gostou da distribuição dos cômodos. “Parece uma casa, os espaços são amplos, confortáveis, e no terraço tem floreira”, diz ele, que cuida de suas plantas e gostaria de ver todos os vizinhos fazendo o mesmo para embelezar a construção. Tombado desde 1992 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio, o Louvre teve a fachada restaurada com pastilhas rosa e azul, as cores originais. Para João, uma das maiores mudanças no entorno do edifício foi a chegada do metrô na Praça da República. “Tenho carro, mas quase não o uso, pois encontro o que preciso por perto. O bom daqui é fazer tudo a pé”, conta.
EDIFÍCIO LOUVRE

AUTOR: João Artacho Jurado
INAUGURAÇÃO: 1958
ENDEREÇO: Av. São Luís, 192, República.
SOBRE O PRÉDIO: São mais de 300 apartamentos em 25 andares. No térreo, há galeria comercial. A garagem ocupa quatro subsolos. Na cobertura, uma surpresa: a piscina.
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A moradora Elza Horta, na escadaria de acesso ao Edifício Louveira, onde vive há 43 anos (Foto: Felipe Morozini)
As rampas de acesso são um dos destaques da arquitetura, assinada por João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Foto: Felipe Morozini)

Vizinha da praça
A ex-funcionária pública e dona de casa Elza Horta, 72 anos, conhece um dos arquitetos que projetaram o prédio, onde vive desde 1970. “Meu pai foi amigo de Vilanova Artigas e dois tios tiveram suas casas projetadas por ele”, conta. Segundo a moradora, a intenção de Artigas ao idealizar o Edifício Louveira era integrá-lo à Praça Vilaboim, que fica logo em frente. “Sempre namorei este prédio antes de vir para cá. Mudei por causa da arquitetura”, diz ela. Com o marido, criou quatro filhos e um cachorro no apartamento amplo, e foi síndica por 15 anos. Elza admira diversos aspectos do imóvel, a começar pelo terreno, que foi bem aproveitado com jardins e rampas.

A iluminação e a ventilação também são valorizadas. O pé-direito tem 3 metros de altura e as janelas ocupam toda a parede da sala. No hall do térreo, há a pintura original de Francisco Rebolo. “Morar aqui é uma sorte”, conclui.
EDIFÍCIO LOUVEIRA


AUTORES: João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi
INAUGURAÇÃO: 1949
ENDEREÇO: Praça Vilaboim, 144, Higienópolis.
SOBRE O PRÉDIO: Dois prédios de sete andares com dois apartamentos por andar. Sem portão, rampas sinuosas levam à entrada. As janelas amarelas e vermelhas são a marca registrada do prédio.
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O morador Carlos Santos na cobertura do Edifício Bretagne. O jardim bem cuidado e a vista ao redor completam a área de lazer nas alturas (Foto: Felipe Morozini) 

Ousadia nas formas
O empresário aposentado Carlos Santos chegou ao edifício em 1960, com 10 anos. “Meu pai vendia areia para construtoras e parte dela está neste prédio”, conta. Ele se recorda que a decoração da área comum mudou com o tempo, mas a fachada continua a mesma. “O salão de música tinha cortinas de veludo vermelho. Onde antes ficava a sala de leitura, hoje é a de ginástica”, diz. Acredita-se que este foi um dos primeiros edifícios com piscina de São Paulo e, segundo Carlos, até a década de 1990, o Bretagne foi muito visitado por turistas interessados em conhecer a arquitetura de Artacho Jurado, que morou por alguns anos no prédio. “Ele uniu cinco apartamentos para viver com a família. Baixinho, usava chapéu de palha e terno, sempre com charuto na boca”, conta. Carlos assistiu à vizinhança se modificar ao longo dos anos. Hoje, divide o apartamento com o filho.
EDIFÍCIO BRETAGNE

AUTOR: João Artacho Jurado
INAUGURAÇÃO: 1959
ENDEREÇO: Av. Higienópolis, 938, Higienópolis.
SOBRE O PRÉDIO: São 18 andares com apartamentos de metragens variadas. Tem piscina, salão de música com piano de cauda, bar, salão de jogos, brinquedoteca e outros itens de lazer.
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A moradora Amélia Maia, que vive há 55 anos no edifício Três Marias, famoso pelas varandas espaçosas (Foto: Felipe Morozini)

Vida na paulista
Desde 1958, quando trabalhava como secretária, Amélia Maia, 86 anos, vive no prédio na esquina da Avenida Paulista com a Rua Haddock Lobo. “Logo que me casei vim morar com minha sogra e foi aqui que criei meus dois filhos”, relembra. Amélia conta que, mesmo com tudo o que mudou na região ao longo do tempo, não tem preferência entre passado e presente. “Cada época tem suas coisas boas. Antes eu levava minhas crianças para passear de bonde, elas adoravam. Agora tem o metrô, que me leva onde preciso”, diz. O que ela mais gosta no apartamento é o espaço amplo e o pé-direito de 3,15 metros, que garante boa ventilação. “Aqui estou bem servida de cultura. Vou ao teatro, ao cinema e ao museu. É tudo perto”, diz. Amélia faz parte do conselho consultivo do edifício desde 1980 e sugere melhorias. “Nunca pensei em sair do Três Marias. Meu marido, falecido em 1977, adorava o prédio. Prometi a ele continuar aqui”, conta.
EDIFÍCIO TRÊS MARIAS

AUTOR: Abelardo de Souza
INAUGURAÇÃO: 1952
ENDEREÇO: Av. Paulista, 2.239, Bela Vista.
SOBRE O PRÉDIO: Os 96 apartamentos têm dimensões variadas, com ou sem varanda.
O hall de entrada, todo revestido em mármore, mantém-se preservado desde a inauguração.

Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com

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